Relíquias. As do dia-a-dia. Sentidos. Os pulsantes. Luzes. Os excessos das sombras. É quase sempre de verdade, quase nunca por inteiro e, com sorte, com alguma sujeira final pra polir... Intentos. Os desde criança. Açúcares. Os que amarguem no final. Topos. Os de cume desconfortável. Vergonhas cantadas em coretos centrais, pintadas de nu pra parecer espontâneo. Colaborações. As de gosto, por favor!

domingo, julho 02, 2006

...até...


IV

E, antes que terminassem a conversa, ouviu-se uma risada muito alta vinda de todo lugar. Pensaram por um momento.
Com espanto, Adão perguntou à Eva: “Será que vai chover?”

...e...


III

Adão já estava impaciente e, ao ver a figura de Eva vindo ao longe, pensou em como ela era mais magra quando eles se conheceram. Estranho. Aquilo nunca havia lhe ocorrido antes. Mal sabia que, de longe, Eva pensava no mesmo instante em como era possível aquela cabeleira linda de Adão ter se estinguido em tão poucos anos...
Encontrando-se com o homem já foi logo se explicando. “Demorei a voltar porque conheci uma pessoa fantástica no caminho que me deu isto.” A maçã ali, entre o casal, brilhava com força e assistia à cena.
“Mulher, o que é isto?”
“Maçã!”
“Maçã?”
“É... a última moda em Amsterdã.”
“Amsterdã?”
“É... você nunca me levou a Amsterdã...”
“Como assim, Eva? Até ontem não existia Amsterdã!”
“Você e suas eternas desculpas!”
“Eva, o que está acontecendo? Você está querendo me dizer alguma coisa?”
“Não é nada disso Adão. É que ás vezes, eu acho que você não ouve o que eu digo.”
“Como assim? É claro que eu te ouço.”
“Por isso eu acho melhor a gente dar um tempo.”
“Tempo? Pelo amor que nós ensinamos a Deus, até ontem não havia tempo! Só há hoje porque ontem e hoje já são tempo por si só!”
“Agora você vai começar a mudar de assunto só pra me deixar confusa, não é?”
“Ah...”

...continuando...


II

O dia estava claro e havia um cheiro de tinta fresca no ar.
O primeiro a acordar foi Adão, e sem sequer abrir os olhos direito, cutucou a mulher ao seu lado e lhe pediu o de sempre: dois brioches recheados com grãos de mostarda. A coitada, Eva, acostumada a servir o canalha, precipitou-se a levantar e providenciar o pedido. De repente, um sobressalto. A árvore de brioches, amanteigados e bolinhos havia sumido! Em lugar dos quitutes, haviam objetos estranhamente brilhantes, redondos e vermelhos, e no lugar da placa onde se lia “SELF SERVICE”, havia uma mulher muito feia e linguaruda.
Eva, constrangida, aproximou-se e perguntou-lhe o que eram os objetos pendurados à árvore.
“São maçãs, a última moda em Amsterdã”.
“Maçãs...E pra que servem?”
“Para enlouquecer os homens!”
“Ah! Mas que utilidade mais horrível! Quem iria querer um homem louco?”
“Sua tola... Basta uma dentada e ele cairá aos seus pés! Você conhece Amsterdã?”
“Na verdade não...”
“Eu também não conhecia até ontem... Mas foi só eu oferecer à João Batista que ele perdeu a cabeça!”
“Sério?”
“Seríssimo. Está vendo esse anel? João pagou os olhos da cara...”
“Tudo isso por causa da maçã?”
“Ãhã...”
Ah... Eva não se contentou. Talvez fosse a única do primeiro dia da criação que não conhecesse Amsterdã ou não tivesse um anel daqueles...

domingo, junho 25, 2006

Sabias que antes de criar, Deus aprendeu a amar?


I

Segundo uns, com os próprios homens...
Ah... os homens lhe deram uma grande lição... Como era gozado aquele homenzarrão quase sem cabelos, quase sem dentes, quase sem palavras, ávido por aprender o último segredo que ainda lhe faltava. Resolveram negociar. Percebiam o tamanho do empreendimento que tinham em mãos; ensinariam o velhote a amar se em troca ele lhes desse, ao menos, uma história bonita pra contar e explicar como haviam sido criados, já que nenhum deles ali se lembrava ao certo.
Assim ambas as partes estavam felizes. E eles, os homens, estariam prontos a assumirem suas responsabilidades perante Deus. Nada mais de pensar em pixar os muros que ele ainda haveria de criar e muito menos, comparar o filho único que ele ainda teria àquele animal delicado que salta pelas selvas...
O trabalho iniciado, os homens preferiram deixá-lo pensar que ele havia sido responsável pela grande idéia da Obra de sete dias... Os méritos, já se sabia, ficariam todos para Deus. Mas também ficariam as pragas se tudo desse errado, o trabalho de reconstrução se algo necessitasse de reparo, os pedidos e reclamações da população presente na então Criação, os “ais” e lamentos e dores... enfim, tudo que envolve uma criação a partir do momento do parto.
Eles se sentaram em longas filas, muito próximos, para assitir ao exaustivo labor em que o Grande se empenhava. Procurou ele o melhor barro, fez de suas mãos o melhor instrumento de entalhe, esperou pacientemente o melhor tempo, colocou seus bonequinhos medíocres lado a lado, ombro a ombro ao sol para secar, quando...
...Espertos e cheios de esmero, os homens se fizeram novamente burros e preferiram dormir cinco minutinhos a mais naquele sétimo dia, só pra terem o gostinho de serem acordados pelo Deus iludido da Criação dos mesmos...

domingo, junho 04, 2006

Um paradoxo de pijama


E de repente a resposta bate no seu portão, e é trazida pela mão de sua mãe até os seus braços...

vai saber onde vou parar...
Se é que eu tenho que parar um dia...

sábado, junho 03, 2006

Depois de um dia de janelas fechadas e olhos úmidos


E pensar que você já havia me pedido pra fazer a coisa certa há tanto tempo...
Tudo tão claro o que deveríamos fazer. Não entendi.
Desculpe.


Hoje é dia de parênteses.
Um parêntese dos dias.
Uma lacuna em que me reservo ao não contato.
Ao não pronunciamento, eis meu direito.
Ao não falar sobre nada, em absoluto.
Não é discórdia, desavença, tristeza ou felicidade.
É o dia em que meus olhos vêm tudo à sua maneira e eu, por experiência, sei que é o dia em que estrago todas as coisas que toco.
Meu dia de Midas, que transforma em merda.

Hoje é meu dia de pause. Com o botão apertado, não toco em ninguém e evito um outro milênio de desacordos e indisposição.
Quando não se vai acrescentar, cala-se.
Só não me calei ainda, pois quero que saiba o que está acontecendo.
Só hoje, não tem a ver com nada.
Só hoje, ninguém tem culpa.
Só hoje e amanhã passa.
Só hoje e o resto é continuidade.
É uma trégua que me cedo, para não enlouquecer.
Um dia de fúria, de convulsão, de corrupção, de orgia, de luxúria, de gula, de amor, de pecado e redenção, de ego, de lixo existencial, de suicídio, de desperdício, de auto-estima de ostra, de televisão desligada, luz apagada, silêncio forçado, porta trancada, dinheiro rasgado, fotos no lixo, cabelo despenteado, domingo sem frio, tristeza do Jeca, dislexia verbo-sinaptico-comunicativa, desabafo, desacato,desalento, ultra-som, menstruação, hormônios, depressão, euforia, liberdade, submissão, contradições em pleonasmo, pulmões dilacerados, morte lenta e dolorosa, nascimento, exílio, remorso. Sem lágrimas.
Desculpe hoje é o meu dia.
Só hoje.

A contar: Eu preciso andar um caminho só.


Banalidades...
Sempre presentes...

EU ODEIO SERVIDÃO CEGA.
ODEIO GENTE IGNORANTEMENTE SERVIL.
ODEIO GENTE IRRITADA COM A VIDA.
ODEIO LIÇÃO DE MORAL BARATA.
ODEIO GENTE ESPERTA EM CIMA DA SITUAÇÃO.
ODEIO SENTIMENTO DE CULPA.
ODEIO ME SENTIR PEQUENA.
ODEIO TER QUE SUPORTAR COISAS E PESSOAS.
ODEIO SENTIR MEDO.ODEIO NÃO SABER ESCOLHER.
ODEIO NÃO SABER CONCILIAR.
ODEIO QUERER E NÃO CONSEGUIR.
ODEIO QUERER E NÃO PODER.
ODEIO ESTAR ATRÁS DE ALGO DISTANTE.
ODEIO GENTE OPORTUNISTA.
ODEIO VER E NÃO FALAR.
ODEIO FALAR E NÃO VER.
ODEIO PESSOAS FABRICADAS.
ODEIO IGNORÂNCIA ABSOLUTISTA
ODEIO GENTE QUE PENSA QUE ME CONHECE.
ODEIO MENTIR.
ODEIO TER QUE SENTIR CULPA POR MENTIR.
ODEIO SENTIR MINHA FRAQUEZA.
ODEIO CONHECER E NÃO SABER.
ODEIO SER VISTA E NÃO CONHECIDA.
ODEIO VISÕES FUTURISTAS.
ODEIO MEU EXTREMISMO.
ODEIO MEU MEDO DE SER INTOLERANTE.
ODEIO APRENDER E FICAR BURRA.
ODEIO SABER DE MAIS E NÃO SABER NADA.
ODEIO MINHA INTOLERÂNCIA INSTAURADA.
ODEIO QUE ME QUESTIONEM.
ODEIO QUE ME ACEITEM.
ODEIO GENTE LERDA.
ODEIO GENTE BURRA.
ODEIO TER PENA DOS OUTROS.
ODEIO MEU EGOCENTRISMO.
ODEIO MINHAS FUGAS DA REALIDADE.
ODEIO ESTAR SOZINHA.
ODEIO QUERER ALGUÉM.
ODEIO DEPENDER DE ALGUÉM.
ODEIO SOFRER POR PASSADO.
ODEIO SENTIR ÓDIO.
ODEIO TER QUE SENTIR CULPA POR ODIAR.
ODEIO ME ARREPENDER.
ODEIO ORGULHO BONDOSO.
ODEIO COMPAIXÃO POR PIEDADE.
ODEIO FRASES FEITAS.
ODEIO TER MEDO DE SER COMO ELE.
ODEIO SER COMO ELE.
ODEIO MINHA CABEÇA DE DROGADA.
ODEIO ESTAR ATRÁS DE ALGO SEM ROSTO.
ODEIO CEDER PRA MIM MESMA.
ODEIO ME PODAR.
ODEIO ME CONTROLAR.
ODEIO MINHA INDECISÃO ETERNA.
ODEIO MEU SUBJETIVISMO.
ODEIO GENTE INFELIZ.
ODEIO GENTE ILUDIDA.
ODEIO VISÕES BARATEADAS.
ODEIO OPINIÃO A CUSTO DE NADA.
ODEIO VER DE CIMA.
ODEIO VER DE BAIXO.
ODEIO VER DE FORA.
ODEIO VER DE DENTRO.
ODEIO MINHA REBUSCAÇÃO.
ODEIO COMPARAÇÕES.
ODEIO MINHA CRÍTICA EXCESSIVA.
ODEIO MEU PERFECCIONISMO.
ODEIO SER DISSIMULADA.
ODEIO NÃO TER LIMITES.
ODEIO ME FODER POR MINHA CAUSA.
ODEIO ME FODER POR CAUSA DOS OUTROS.
ODEIO MEDIOCRIDADE.
ODEIO MATERNIDADE.
ODEIO MODÉSTIA.
ODEIO GENTE MUITO FELIZ CONSIGO MESMA.
ODEIO IMPESSOALISMO.
ODEIO INDIFERENÇA.
ODEIO GENTE MIMADA.
ODEIO DEPRESSÃO FALSA.
ODEIO SINCERIDADE DE MOMENTO.
ODEIO AMIZADE DE MINUTO.
ODEIO QUERER ESTAR PERTO DE ALGUÉM.
ODEIO ME TRAIR.
ODEIO ME TRAIR PRA FICAR PERTO DE ALGUÉM.
ODEIO FICAR FELIZ POR CONSEGUIR ESTAR.
ODEIO MINHA MANIA DE ME FAZER SOFRER.
ODEIO NÃO ESQUECER NADA.
ODEIO LEMBRANÇAS DOLOROSAS.
ODEIO ME VER FRACA DIANTE DELAS.
ODEIO NÃO ME DESFAZER DELAS.
ODEIO NÃO CONSEGUIR E NÃO QUERER.
ODEIO NÃO CONHECER QUEM ELE É DE VERDADE.
ODEIO QUERER CONHECER.
ODEIO A FUTILIDADE DELE.
ODEIO A CAPACIDADE DE ME ENGANAR DELE.
ODEIO A SEDUÇÃO INVOLUNTÁRIA, GRATUITA E DISTRIBUÍVEL DELE.
ODEIO POR CAIR NA DELE.
ODEIO AMIGOS DE MOMENTO.
ODEIO SER AMIGA DE MOMENTO.
ODEIO DISTRIBUIR SENTIMENTOS INÚTEIS.
ODEIO RECEBER OS MESMOS.



Por favor, se você tem um telhado de vidro no lugar de um caráter, afaste-se.

Depois de um dia de travesseiro e trevas...


Nós, os puros, jamais falaremos de pureza!

Vivemos à sombra da frondosa árvore dos pecados mas nela não tocamos. Por pura falta de vontade...
Somos o limite tênue ente a serpente e a fruta. Não somos nenhum dos dois. Porque ser a serpente é oferece a fruta e ser a última é oferecer-se à serpente. Nós, os puros, não oferecemos nem recolhemos a pureza... Simplesmente a ignramos por estarmos certos de que não precisamos pensá-la. Se a pensássemos a desobedeceríamos. Não por intenção, mas por distração pura.

Esse estado permanente de pureza não amadurece, não cai. Somos colhidos ainda sementes porque florescer seria por demais opulento. Nào cabe opulência na pureza pois ela é consciente.

Na pureza não pode caber nada.

Nada escolhemos.

Não somos feitos de carne, porque ela deseja.

Não somos espirito porque ele cede.

Não somos sequer verdade ou mentira. A verdade é limpa, não pura. A mentira é plácida, nós, puros.




Não, não dê mais tantas voltas, não.
Não se chicoteie assim por qualquer perdão. Todo esse teatro não impressiona por maior que seja sua recompensa...Não se importe tanto assim com sua imagem decadente enfim.
Nada adianta depois se lamentar por maior que seja sua displicência.
Volta, ou vai embora, meu amor. Sem ameaças ensaiadas na frente do espelho.
O caminho mais fácil nem sempre é melhor do que o da dor.
Dê uma chance pra vida te mostrar um jeito menos doloroso de se despedir.
Não seja assim tão dura com as palavras.
Lave bem as suas mãos antes de se decidir.

Tire essa lama das botas antes de me dar as costas.

sábado, maio 27, 2006

Antes de qualquer coisa...


Antes que minha própria língua me traia, precipito-me a explicar-me freneticamente: Já não tenho palavras, quem dirá jogos de palavras. Já não tenho argumentos, quem dirá forças para talhar os mesmos.

A Saudade... Bela merda existir só em português. Bela merda, porque não é exclusividade nenhuma senti-la. A única coisa é que temos o inconveniente de saber explicá-la. Ou seja, é um problema a mais…

Ignorei por muito tempo o fato de querer ser outra coisa...

Sei que pagarei por tudo que me faço um dia. Sei tbm que quanto mais eu me aproximo do equilíbrio, mais entro em desespero, me debato. A força que me repele, que me empurra ao mar do esquecimento é mais do que pecado. É grande. Algo fora da minha realidade.

O prazer que a dor trás. O prazer que concebe o caráter, que constrói a imperfeição do olhar.

Olhares baixos.

Respirações ruidosas.

Acreditar que a miopia protege.

Nunca consegui sustentar o olhar por muito tempo... Pelo simples fato de saber que eu era mais inteligente que os que estavam a minha volta.Era motivo de recolhimento, pra mim, saber mais, ver mais que os que me rodeavam.


E se ela um dia despencar do céu?
Cair em desgraça por puro gozo, por pura falta de vergonha?Sim...
Não acredito mais em injustiça. Tudo é merecido. Se não por você, pelos que estão ao seu lado.
É uma escolha deixar-se atingir. Foi uma escolha deixar-me atingir. Deixei-me enfraquecer diante de uma escolha. Sentimentos bons floresceram de forma errada. Aprendi a respeitar. Aprendi a fortalecer corpo, alma e buscar o coração. Tudo ficou pra trás e hoje é apenas mais uma fuga melancólica que me faz de expurgo humano. Aliás, a favorita.


Sinto um constante torpor. Um constante trocar de lugar, de mãos geladas.
Tenho tentado desesperadamente deixar minha marca...
O prazer é todo seu, Amanda Mantovani.