Relíquias. As do dia-a-dia. Sentidos. Os pulsantes. Luzes. Os excessos das sombras. É quase sempre de verdade, quase nunca por inteiro e, com sorte, com alguma sujeira final pra polir... Intentos. Os desde criança. Açúcares. Os que amarguem no final. Topos. Os de cume desconfortável. Vergonhas cantadas em coretos centrais, pintadas de nu pra parecer espontâneo. Colaborações. As de gosto, por favor!

quarta-feira, abril 02, 2008

Formalidades.

O tempo, estafado de trazer e levar quem, o que e pra
onde ele quiser, me ofereceu uma trégua.

"É muito difícil viver sem ter parada."

Tenho uma amiga de tempos que, de tempos em tempos,
aparece.

Conversamos sempre longamente e sempre chegamos à
conclusão: nossa amizade, principalmente por ser longa, é completamente
improvável.


Ela é adepta de diversões e fala da liberdade, da
revolução.

Eu, bicho criado em querência, considero 'democracia'
todos preferirem Coca-Cola a suco de laranja.

Nem nossa decendência oriental pode ser considerada em
comum.


Ela, atende pelo sobrenome estranho em japonês.
Eu, pelo sonoro e gordo
em italiano.

quinta-feira, março 27, 2008

Incentivo ao teatro?


Celso Frateschi e Juca Ferreira.


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Ao cabo de quase duas décadas
de aplicação da Lei Rouanet, a
atividade teatral diminuiu, pelo
menos em termos relativos
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O TEATRO no Brasil celebra o seu dia internacional unido na insatisfação quanto aos mecanismos de financiamento e dividido quanto às possíveis soluções desses impasses. Entre as soluções, tramita no Congresso um projeto de lei que cria a Secretaria Nacional de Teatro para apressar o fluxo de pedidos de financiamento via renúncia fiscal, que seria ainda mais facilitado por mecanismo semelhante à Lei do Audiovisual, que permite o abatimento de até 125% (sic) sobre o valor financiado.

Seguindo a máxima de que não devemos propor o novo sem entender o velho, sob o risco de o novo já nascer envelhecido, sugerimos a análise da eficiência e da eficácia dos mecanismos vigentes, uma vez que a nova proposta baseia-se nos mesmos princípios da Lei Rouanet, que todos querem mudar.

O principal objetivo da Lei Rouanet é estimular a economia da cultura, proporcionando aos cidadãos brasileiros maior acesso à cultura produzida em nosso país. No entanto, antes da lei, as temporadas de nossos espetáculos tinham de seis a oito seções semanais. Hoje são duas a três seções por semana. Por que percebemos essa radical redução?

Muitos alegam que não há mais público para longas temporadas. Se isso é verdade, como parece, é mais um motivo para questionarmos o mecanismo atual. Ao cabo de quase duas décadas de aplicação da Lei Rouanet, a atividade teatral diminuiu, pelo menos em termos relativos. O número de produções cresceu, mas elas estão cada vez mais concentradas na região Sudeste. Como explicar o aparente paradoxo?

Quase todos os recursos da Lei Rouanet para o teatro são aplicados na montagem do espetáculo e na manutenção de uma temporada cada vez mais curta. Por quê? Não seria porque o empresário, que visa o lucro -e é natural que seja assim-, foi induzido a produzir cada vez mais montagens, ao perceber que o seu lucro não vem da bilheteria, o que seria desejável numa economia saudável, mas está embutido no processo de produção?

Se a razão de ser do espetáculo não é mais o público, que sentido pode existir nesse teatro? O teatro movimenta um número cada vez maior de recursos da Lei Rouanet: R$ 44.376.571 em 2000 e R$ 107.967.652 em 2007. O preço do ingresso é cada vez mais caro, chegando a custar um salário mínimo -e aí chegamos no limite de um espetáculo, financiado com dinheiro do cidadão, ter o ingresso mais caro que o salário de quem o subsidia.

Pode-se alegar que o teatro não se auto-sustenta economicamente e que sempre precisará de subsídios.

Um exemplo de que isso nem sempre é verdade é o caso de um proponente que, em cinco anos, captou mais de R$ 40 milhões. As montagens foram sucessos retumbantes e geraram lucros significativos. Não obstante, a companhia sempre requisitava, a cada montagem, mais recursos. O último pedido, negado pelo Conselho Nacional de Incentivo Cultural, chegava a R$ 27 milhões.

Isso sugere que o teatro pode dar lucro e que tal lucro pode estar sendo aplicado em outros setores da economia. Recentemente um empresário teatral carioca disse ao jornal "O Globo" que "o teatro é um ótimo negócio". O teatro, ao menos para alguns, não é inviável economicamente.

Com a Lei Rouanet, os orçamentos públicos para a área de cultura escassearam, com exceção do federal e de raros casos estaduais e municipais. A distorção chega ao ponto de TVs públicas, orquestras sinfônicas, o Sistema S e até a Funarte precisarem se utilizar da Lei Rouanet.

Alguns produtores argumentam que os mecanismos vigentes protegem a produção dos humores do orçamento público, mas os valores aprovados para captação crescem ano a ano, e os valores captados, que dependem dos orçamentos das empresas, tiveram uma queda em 2007.

O teatro não é apenas uma atividade econômica. É uma forma de expressão e de construção de conhecimento, que engrandece o cidadão na sua humanidade e sociabilidade. É uma arte pública e possui na sua própria essência o ato político da cidadania. É um exercício de liberdade que expõe, pela representação, o homem em suas relações, num ato ao mesmo tempo individual e coletivo.

Comemoramos o Dia Internacional do Teatro com velhas angústias e velhas e novas esperanças, mas com ânimo renovado para o debate e para a busca de soluções mais estruturantes para a atividade, que atendam o teatro não apenas como atividade econômica, mas também na sua dimensão simbólica e, principalmente, como direito do cidadão.

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CELSO FRATESCHI , 56, ator, diretor e autor de teatro, professor de arte dramática da USP (licenciado), é presidente da Funarte (Fundação Nacional de Arte). Foi secretário municipal de Cultura de São Paulo e diretor do Departamento de Teatros da secretaria (gestão Marta Suplicy).
JOÃO LUIZ SILVA FERREIRA , o Juca Ferreira, 59, sociólogo, é secretário-executivo do Ministério da Cultura

Folha de São Paulo

27/03/2008

Tendências / Debates



segunda-feira, março 24, 2008

Manso e cinza.


Consumo Los Hermanos, Coca-Cola e cigarro.

A noite se avizinhou
e deste novo ângulo, os muchachos parecem blues...


sexta-feira, março 14, 2008

Caixa Postal


Eu já fui melhor, baby.

Hoje, o que te posso oferecer é esse escombro de mulher...
Já não brilho como antes, nem a maquiagem me cai tão bem.

Mas agora, amor, eu preciso que você seja sincero. Não tema em me causar dor, os homens todos de minha vida me fizeram forte.


Existe na Terra, algo tão poderoso e de tamanho fascínio, de fronte brilhante e crueldade virginal que me reviva, me inspire novamente a, fatalmente, me sufocar?


imagem: Mulher Cão, Paula Rego.

segunda-feira, março 10, 2008

Noite mal dormida


Ela acordou. Onde estou? Em todos os lugares das lembranças. Um instante apenas e o sentimento é que todo o universo parece estar aqui. Foco e luz, reflexo. O mundo é belo quando me sinto assim. Belo também. O que há de bom é que vai chover. O sol ainda lá. Ventos e tempestades. A natureza ainda é viva e vibrante. Manifesta. Deus é manifesto. Agente oculto.


Os limites. Não ter asas. Não ter guelras. Pedaços. Fragmentos. Acordou assustada e tentou voltar a dormir. Outra vez a mesma coisa. Acorda. Olha ao redor. Procura a verdade que pode apalpar. Olha. Procura o relógio. Tentar ver o tempo. Controlar o tempo. É cedo. Duas horas. Preciso acordar por volta das seis. Duas horas depois é quatro horas e lá está interrompendo o sonho. O mesmo sonho. São quatro horas de um dia que ainda não clareou. Tentar outros sonhos. Acordar disposta. Seis horas.
Agora um banho.
Oito da manhã. Suco e aspirina. Rezas. Proteção. Um tempo para sonhar mais um pouco. Deus é presente. Aperta o botão do elevador. Aperta o térreo e conta quinze segundos. Térreo.Hoje não chove. Venta calmo e o céu está limpo. Aperta o botão do controle que aciona o portão eletrônico e ele vai se abrindo. Olha para o espelho colado na parede. Ninguém. Atravessa a rua. Desce. Vira à esquerda. Agora à direita. Cruzamento.
- Bom dia!
- Bom dia!
- Posso perguntar uma coisa?
- Depende.
- Não é nada complicado nem pessoal.
- Ainda bem. E o que é então?
- Onde fica o banheiro?







MCD!

sexta-feira, março 07, 2008

Pulso.




correr contra a parede chocar contra o muro se abrir em fragmentos suspender em um sangue negro refazer os pedaços repetir a corrida chocar contra o muro desfalecer em devaneios acelerar o coração ciar um outro estado de ser alterar a sensibilidade revelar o que quero brincar de ser ator arrebentar os trinta e dois dentes para a cachoeira do sangue negro lavar o chão da sala de ensaios esfregar esfregar esfregar a identidade no mundo acolher os demônios e santos em uma alma resplandecer nas trevas acusar a autopromoção ajoelhar perante o império desconhecido saudar reis e rainhas sem cetro ouvir os gemidos dos pobres e a aflição dos humildes desatar o nó na garganta experimentar da maçã fechar os olhos em um caixão correr contra a parede chocar contra o muro quebrar a cara golpear o vento fraturar com exposição todos os ossos do corpo cantar que já estou salva e depositar os sonhos em mundo melhor



Z.F.

terça-feira, março 04, 2008

Traição.


Quem ama não trai!
Todo mundo tem certeza na vida que ama alguém!
Então ninguém nunca traiu?


Se você traiu quem quer que seja, traiu quem você ama... pois quem você ama sempre espera que você nunca traia ninguém, até mesmo aqueles a quem não ama.


Por esses dois trechos, percebe-se a intensidade com que a palavra traição está inteiramente ligada a palavra você. Quem trai, o faz pensando em sim mesmo, quem ama, pensa no outro. Mas se todo mundo que ama já traiu alguém, seja quem ele ama ou não, então todo mundo só pensa em si mesmo?

Com certeza esse texto é enrolado, apesar de não ser complexo.

Aonde quero chegar?


Nós nos traímos diariamente; a diferença está na forma com que traímos, a forma com que reagimos a isso e principalmente a forma que nos perdoamos para que os outros nos perdoem. Se você encara a traição como um erro de fraqueza, você muda, de preferência para sempre, pois muitas traições se tornam impassíveis de perdão. Se todos erramos e somos passíveis a isso, temos que aprender a perdoar os erros passíveis dos outros, principalmente de quem amamos e esperamos que nunca nos traiam e nem aos outros.


Então, o que é traição?

É quando não podemos mais nos perdoar e nem mesmo erguer os olhos, quando a dignidade deixa de existir e a vergonha torna o fato algo insuportável... Quando isso acontece, é a certeza que não aprendemos com a traição e o erro, pois quem erra e está apto a mudar ergue a cabeça e encara a realidade de que a traição não ocorreu e sim uma fraqueza.

Diferente de quem se abaixa e aceita, esse sim, está certo de que a traição nada mais foi do que um gesto de não-amor a quem o ama e espera que ele nunca traia.



D. C.

segunda-feira, março 03, 2008

Metáforas da ilusão mais real.


Em dia quente, aqui estou, minha alma congelada;
Cego com a luz no meio da noite, não vejo um caminho;
Tentando me achar no mapa da vida;
Procurando o que já achei;
Respostas de uma pergunta já respondida;
Encontrando meu passado, aqui nesse futuro;
Sozinho em meio a multidão.


R. C.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Me irrita o desencontro



Sobre isso, tenho a dizer o mesmo que tenho a dizer sobre a estatística de ruivos japoneses com heterocromia da íris.

domingo, fevereiro 17, 2008

Esquizofrenia diagnosticada


Suspeitei desde muito pequena que era melhor que as outras pessoas. E, da suspeita à confirmação, foi um passo. Olhava a todos que se dirigiam a mim, com a bondade de quem esclarece as cabecinhas inférteis e desprovidas do brilhantismo que, em mim, brotava até pelos joelhos ralados.

No Dia das Crianças de 1996, minha professora da 3° série me incumbiu de fazer o cartaz que ilustraria nossa classe.

Claro, nada mais óbvio.

Em casa, com o desenho mimiografado da Emília em mãos depois de horas sem nenhuma idéia genial na cabeça, a conclusão mais óbvia me aparece...

Claro!

Fechei os olhos, levei as mãos à cabeça e roguei àquele que me tinha feito tão perfeita:


"Deus, pára de me atrapalhar!"

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Especiarias e Amor.


No almoço macarrão, calabresa, e quatro gerações de mulheres.
O tempero é caseiro. O condimento que promete adicionar AMOR à refeição não tem vez no paladar da família. Mas, nem por isso, ele deixa de estar presente à mesa.

Uma delas, viúva de jovem. Dois filhos, empregos infinitos e horas de aflição distante do tempo dos dois. Entende por AMOR, o sacrifício, a superação da necessidade.

Outra, mãe de jovem. Do casamento às pressas só sobrou a viagem de ida do Marido e a história pra contar. Hoje, AMOR é a eterna balança entre o quanto ainda vale a pena.

A terceira, gente de jovem. Surpresa e desapontamento iniciais hoje, são tratados como benção. Ainda recém descobrindo a palavra em questão, AMOR é sobreviver ao sentimento.

A última, tão jovem quanto gente, tão jovem quanto tudo. Não entende: atende por AMOR.

terça-feira, janeiro 29, 2008

El poder


imagem: Raul Pietranera

CONSELHO:

Nunca, nunca, nunquinha, em hipótese nenhuma;
Por apelo natalino da mídia ou ameaças de desocialização;
Por sentimento de culpa ou desencargo de consciência, enfim...

Nunca dê ouvidos às vozes maldosas, perniciosas, ordinárias, nocivas, ruinosas, capciosas, ardilosas, enganosas, astuciosas, engenhosas....
DA SUA CABEÇA!

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Seu eu fosse esse pavão...

"Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar..."



(Só uma coisa: Pavão voa?)

domingo, janeiro 13, 2008

Citações Tristes


Tristeza sem nome faz qualquer um ir e voltar à loucura.

Voltar porque amanhã é segunda-feira e minha loucura não é tão digna que transpasse qualquer urgência ou responsabilidade.

Tristeza que faz roer unha devagarzinho, mastigar o pedacinho que se soltou e cuspir baixo, pertinho de cair no colo.


Citando Forner, Renato: "Alguém tira essa faca do meu peito? "
Foto: Sissy Eiko

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Como diria minha vó...


"Férias é coisa de criança!"

terça-feira, janeiro 08, 2008

Status


Bêbado e triste, abraça a garrafa.

Lambe o gargalo, embaça o vidro.

Desce a língua, alcança a mesa.

A madeira não é tão gentil quanto o vidro mas não se importa. Está no chão e a língua está seca. Dói mas o objetivo é o banheiro. Da copa são uns 3 metros.

Lembra de uma vez, pequeno, em Aparecida do Norte com a família.

Vestido de anjo, em roupa feita pela vizinha-quase-surda-mas-amiga-da-família. Roupa quente, tecido barato. Asas de cartolina e celofane, tortas da viagem, da correria com o irmão.

Tudo pra agradecer graça recebida pelo irmão que hoje podia correr. A perna menor havia se recuperado da cirurgia.

Naquele dia viu o homem de transe tão profundo e reza baixa caminhando sobre os joelhos. Não demonstrava sofrer e diziam que o objetivo seria atingido com certeza.


Avistou o bege do vaso sanitário e a cintilância lembrou a garrafa.

Desisitiu. Voltou pra mesa, serviu-se e pensou na perseverança do homem de joelhos. Não a queria.

Estar torpe de vodka barata, de cerveja barata, de cubanitos baratos...

era impagável.


segunda-feira, janeiro 07, 2008

Nós e o Outro.


Estive conversando com Danilo.

Com Priscila também.

Com gente que finjo que conheço.

De gente que penso conhecer.

De maneira que nunca tinha me referido antes.

Discutimos as opiniões longamente.


O que eu acho de verdade, é que você tinha mil motivos pra mandar tudo pro espaço.

Eu acho que a sua casa ainda continuaria em pé mesmo sem você aqui. E que todos fariam grande questão de tê-lo em sua mesa depois de tanto tempo de saudade.

Acredito também que sempre que falássemos de você teríamos a verdadeira sensação de termos visto algo grande acontecer. Com você e claro, com nós, seres orgulhosos.


Por isso, acredito no momento.


Acredito que as viagens diárias tenham te dado tempo pra pensar e sentir o corpo cansado de tantos Km rodados no lugar. Nos mesmos cubículos quadrados.