Relíquias. As do dia-a-dia. Sentidos. Os pulsantes. Luzes. Os excessos das sombras. É quase sempre de verdade, quase nunca por inteiro e, com sorte, com alguma sujeira final pra polir... Intentos. Os desde criança. Açúcares. Os que amarguem no final. Topos. Os de cume desconfortável. Vergonhas cantadas em coretos centrais, pintadas de nu pra parecer espontâneo. Colaborações. As de gosto, por favor!

domingo, julho 02, 2006

...continuando...


II

O dia estava claro e havia um cheiro de tinta fresca no ar.
O primeiro a acordar foi Adão, e sem sequer abrir os olhos direito, cutucou a mulher ao seu lado e lhe pediu o de sempre: dois brioches recheados com grãos de mostarda. A coitada, Eva, acostumada a servir o canalha, precipitou-se a levantar e providenciar o pedido. De repente, um sobressalto. A árvore de brioches, amanteigados e bolinhos havia sumido! Em lugar dos quitutes, haviam objetos estranhamente brilhantes, redondos e vermelhos, e no lugar da placa onde se lia “SELF SERVICE”, havia uma mulher muito feia e linguaruda.
Eva, constrangida, aproximou-se e perguntou-lhe o que eram os objetos pendurados à árvore.
“São maçãs, a última moda em Amsterdã”.
“Maçãs...E pra que servem?”
“Para enlouquecer os homens!”
“Ah! Mas que utilidade mais horrível! Quem iria querer um homem louco?”
“Sua tola... Basta uma dentada e ele cairá aos seus pés! Você conhece Amsterdã?”
“Na verdade não...”
“Eu também não conhecia até ontem... Mas foi só eu oferecer à João Batista que ele perdeu a cabeça!”
“Sério?”
“Seríssimo. Está vendo esse anel? João pagou os olhos da cara...”
“Tudo isso por causa da maçã?”
“Ãhã...”
Ah... Eva não se contentou. Talvez fosse a única do primeiro dia da criação que não conhecesse Amsterdã ou não tivesse um anel daqueles...

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