
II
O dia estava claro e havia um cheiro de tinta fresca no ar.
O primeiro a acordar foi Adão, e sem sequer abrir os olhos direito, cutucou a mulher ao seu lado e lhe pediu o de sempre: dois brioches recheados com grãos de mostarda. A coitada, Eva, acostumada a servir o canalha, precipitou-se a levantar e providenciar o pedido. De repente, um sobressalto. A árvore de brioches, amanteigados e bolinhos havia sumido! Em lugar dos quitutes, haviam objetos estranhamente brilhantes, redondos e vermelhos, e no lugar da placa onde se lia “SELF SERVICE”, havia uma mulher muito feia e linguaruda.
Eva, constrangida, aproximou-se e perguntou-lhe o que eram os objetos pendurados à árvore.
“São maçãs, a última moda em Amsterdã”.
“Maçãs...E pra que servem?”
“Para enlouquecer os homens!”
“Ah! Mas que utilidade mais horrível! Quem iria querer um homem louco?”
“Sua tola... Basta uma dentada e ele cairá aos seus pés! Você conhece Amsterdã?”
“Na verdade não...”
“Eu também não conhecia até ontem... Mas foi só eu oferecer à João Batista que ele perdeu a cabeça!”
“Sério?”
“Seríssimo. Está vendo esse anel? João pagou os olhos da cara...”
“Tudo isso por causa da maçã?”
“Ãhã...”
Ah... Eva não se contentou. Talvez fosse a única do primeiro dia da criação que não conhecesse Amsterdã ou não tivesse um anel daqueles...
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