Relíquias. As do dia-a-dia. Sentidos. Os pulsantes. Luzes. Os excessos das sombras. É quase sempre de verdade, quase nunca por inteiro e, com sorte, com alguma sujeira final pra polir... Intentos. Os desde criança. Açúcares. Os que amarguem no final. Topos. Os de cume desconfortável. Vergonhas cantadas em coretos centrais, pintadas de nu pra parecer espontâneo. Colaborações. As de gosto, por favor!

terça-feira, janeiro 08, 2008

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Bêbado e triste, abraça a garrafa.

Lambe o gargalo, embaça o vidro.

Desce a língua, alcança a mesa.

A madeira não é tão gentil quanto o vidro mas não se importa. Está no chão e a língua está seca. Dói mas o objetivo é o banheiro. Da copa são uns 3 metros.

Lembra de uma vez, pequeno, em Aparecida do Norte com a família.

Vestido de anjo, em roupa feita pela vizinha-quase-surda-mas-amiga-da-família. Roupa quente, tecido barato. Asas de cartolina e celofane, tortas da viagem, da correria com o irmão.

Tudo pra agradecer graça recebida pelo irmão que hoje podia correr. A perna menor havia se recuperado da cirurgia.

Naquele dia viu o homem de transe tão profundo e reza baixa caminhando sobre os joelhos. Não demonstrava sofrer e diziam que o objetivo seria atingido com certeza.


Avistou o bege do vaso sanitário e a cintilância lembrou a garrafa.

Desisitiu. Voltou pra mesa, serviu-se e pensou na perseverança do homem de joelhos. Não a queria.

Estar torpe de vodka barata, de cerveja barata, de cubanitos baratos...

era impagável.


3 comentários:

Anônimo disse...

Ufa. Tenso, nossa.

Zé, de sobrenome Forner disse...

Fantástico esse!

Anônimo disse...

e quem precisa da porra da absolut, não é meu amor?